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OPINIÃO: Gestão de perdas

Liderança é um ato de coragem e comprometimento visceral. Convencer o outro a fazer o que precisa ser feito nunca foi fácil. Mas, sem dinheiro, fica muito pior. Na iniciativa privada, a cada notícia negativa, a equipe estremece, o nível de confiança cai, e o gestor tem que recorrer à ginástica para manter o negócio em pé. Com dinheiro, os pequenos equívocos são suportados com facilidade.

Os recursos mitigam os efeitos da incompetência, ou mesmo da falta de liderança. Ao menos por um tempo. Já numa situação apertada, qualquer deslize leva uma organização à bancarrota. O erro passa a ser proibido, por mortal. Gerir sem caixa é uma arte. Liderar pessoas num ambiente desfavorável, um desafio diário. Com salários atrasados, então, é o "ironman" profissional. Algo quase impossível.

Se a lojinha está com estoque reduzido, sem crédito na praça, e o entra e sai de clientes minguou, a liderança está em cheque. Mesmo quietos, todos observam e fazem seu próprio julgamento. A responsabilidade tem que ser de alguém, e, por mais ingrata que seja a constatação, será sempre do líder, que é justamente quem define o caminho. Se o soldado molha os pés, a culpa é do tenente, e ponto final. Enfim, é tempo de administrar passivos, aqui fora, nos negócios, e ali dentro, na administração pública. Ambos os ecossistemas em absoluta e aguda crise, salvo raríssimas exceções.

Na lojinha, o líder deve manter a calma. A sua e a dos demais. O que não significa calmaria. Deve impor um ritmo maior, sem desespero, mas com pressa, vigor. Agonia não paga conta, trabalho sim. Deve aumentar a carga e escolher os fortes. Priorizar os aspectos vitais, deixar de lado os achismos, e focar nos resultados. No poder público, a solução é ainda mais desafiadora, uma vez que o contexto inclui uma gigantesca teia burocrática, pronta para prender e asfixiar a mais ágil das criatividades. Porém, como desistir é morrer, cabe ao líder persistir, refazer. Sem dinheiro, com estratégia.

A missão do gestor é planejar só (no sentido da responsabilidade) e executar junto (em todos os sentidos). A falta de recursos faz parte da trajetória de qualquer liderança, e, inclusive, faz crescer. Todo líder sai mais forte de circunstâncias assim, complicadas. Cria casca, endurece os atos e, por outro lado, acaba pegando mais jogo de cintura para enfrentar as barreiras que a rotina administrativa exige. Seu corpo torna-se apto às peripécias que a vida de líder lhe impõe. Importante retirar algo de bom dos momentos difíceis. Aprender sobre novas formas de liderança, estilos inovadores de gestão. Gerir perdas hoje para, no mínimo, conseguir estar aqui amanhã, quando a coisa melhorar.

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